PARADA GAY: POLÍTICA OU MICARETA

por Abigail Rosselini
(SJ Rio Preto)

Quando eu fui à minha primeira Parada Gay em São Paulo há onze anos, eu achei tudo mágico, muito luxo, muita fantasia, muito glamour, muitas drags querendo realmente aproveitar aquele dia pra mostrar para a sociedade brasileira que somos todos iguais, e também queremos nosso espaço que é garantido pela constituição na sociedade. Pensei que estávamos caminhando ruma ao fim de muitos tabus, muitas formas de preconceitos cairiam ao chão, pois eles nos enxergariam como cidadãos iguais ou até melhor que muitos héteros que "mandam" na nossa sociedade.

Isso foi o início de uma questão política que nem mesmo eu imaginava a dimensão que teria. Depois veio uma das ONGs de maior referência do interior paulista e a nível mundial também, a GADA - e deu início a primeira Parada Gay de São José do Rio Preto/SP, onde estive presente como ajudante, e principalmente como militante de uma causa nobre, mas que me exigiria muita luta e esforço diante de milhões de prós e contras.

Todos nós envolvidos nesta politicagem nos enchíamos de felicidade ao ver que a cada ano mais pessoas aderiam a nossa causa, sejam gays não assumidos, timidamente do outro lado da avenida, ou aqueles que estavam travestidos sem nenhum medo dos fantasmas do preconceito. Sem dizer às lésbicas que em minha opinião são muito corajosas, visto vivermos em uma sociedade totalmente machista, ou seja, se já é difícil para nós "homo" ou "trans", mais ainda para as lésbicas.

Enfim, elas, eles, e muito mais, muitos héteros que estavam e ficam do nosso lado e nos apóiam para um mundo melhor, sem crimes, sem homofobia, sem preconceito. Pensei que estávamos no caminho certo, e certamente estávamos!

Bom, neste ano, fui como de costume desfilar no trio da Seesp em São Paulo, e infelizmente, vi muita coisa feia, horrível, que não deveria estar acontecendo, mas que tomou conta da maioria das pessoas no dia da visibilidade gay. Eu vi pessoas extremamente embriagadas, pessoas fazendo tudo em excesso, drogas sendo consumidos na frente das câmeras, muitos de nós querendo sexo, beijo na boca e como diziam: "Foda-se a sociedade!!!". No dia seguinte em São Paulo, lia-se em todos os tablóides, jornais e revistas de maior circulação de SP e do país os temas: "Parada Gay ou Palhaçada Gay", em outros "Gays se reúnem para micareta regada a bebidas e sexo" e assim vai, mas nenhum nos elogiando e sim só criticando. Fora que depois do desfile, a Avenida Paulista, ícone de São Paulo, palco de todas as tribos e local para gritar quando se sentirem acuadas estava totalmente destruído. Uma avalanche havia passado por lá, destruindo telefones públicos, jardins esmiuçados, grades destorcidas, halls de prédios com vidros quebrados, fora a quantidade de lixo, entre eles seringas e camisinhas! Agora eu te pergunto: "Queremos ser tratados como cidadãos ou como animais?".

Como podemos reivindicar direitos iguais se no dia que temos para a sociedade nos visualizar fazemos a política se transformar em chacota. Precisamos mudar isso imediatamente, pois estamos perdendo os direitos de lutarmos a favor da diversidade. Antes para realizarmos a Parada era tudo muito mais fácil, pra organizarmos e até para sermos patrocinados, visto as ONGs não terem verbas para realizarem tudo sozinhas. As empresas e as pessoas importantes hoje já não querem mais ajudar, pois temem acabar com suas reputações.

Se fosse a outra época, eu poderia chamá-los de hipócritas, mas depois de tudo que eu mesma presenciei, tenho que admitir que eles têm um fundo de razão. Temos na própria política do nosso país muita roubalheira, sujeira e a sociedade que é mesquinha, mas não podemos nos esquecer que ainda eles são a maioria, e sendo tal, eles ainda mandam. Quase trinta por cento dos políticos em Brasília são religiosos, e contra os homossexuais de todas as formas. Cada dia eles se tornam mais fortes, pois querem nos resumir a nada, e o pouco que conseguimos até hoje estamos jogando no lixo. Está na mão de cada um de nós mudarmos essa palhaçada, mudar esse conceito antes que nos barrem até nossas paradas. Eu não estou dizendo que a culpa é sua, ou dele, mas é nossa, de alguma forma temos que abraçar a causa, antes era a causa da discriminação, e agora vejam que engraçado, temos de mudar nosso comportamento, temos de mudar nossa postura, e cabem a você, eles, elas, e eu também fazermos isso junto e urgente. Por favor, eu peço a todos, pensem se realmente é esse conceito que queremos mostrar e passar para as pessoas e para as famílias que tomam esse dia para nos prestigiar de um bando de "viado", "sapatão" e "travestis", de bêbadas, drogadas e promíscuas!

Reflitam, e depois tomem a decisão de que lado você quer permanecer, ao lado dos que querem um futuro melhor, ou das derrotadas que não terão futuro algum? Mudemos nosso comportamento já!!!

Podemos começar dia 26 de setembro de 2010 na cidade de São José do Rio Preto na 10º Parada do Orgulho Gay. A questão política começa a partir das 14 horas na concentração em frente à Prefeitura Municipal, na avenida mais famosa da cidade, a Alberto Andaló, e seguiremos rumo ao Centro Regional de Eventos onde ficaremos até por volta das 20 horas discutindo direitos humanos e cidadania para as pessoas que querem um futuro justo. Após isso aos que queiram comemorar como uma festa e uma conquista de um dia bem sucedido, ai sim podemos brindar com um drink na Boate Mixed itinerante que estará na Oficina da Fama, um lugar apropriado pra quem gosta de boa bebida, relaxar e namorar, tudo com muita moderação, afinal, não somos de ferro, e eu também estarei lá esperando todas as pessoas sejam elas héteros ou homos que queiram um mundo de igualdade, de felicidade, com um drink na mão pra brindarmos o sucesso que será a Parada de Rio Preto!!!